quarta-feira, 14 de julho de 2010

Hoje não temos nossas terras

A necessidade de ter o mar é muito grande. Os mais velhos estão sempre dizendo :o mar é muito importante, que saudades de ir com a família para tomar banho de mar…. Hoje nos não temos nosso terra, nem nosso mar. Os índios na podem entrar na praia do Siririba, dos Lençóis, não pode porque são cercadas, antigamente era descer do mato e entrar na praia, tirava coco de chandoca, catava concha, pedrinhas, búzios, orizos. Hoje nos estamos cheios de limites: proibido caçar, pescar, proibido entrar… No nosso mangue se nos proíbe pegar caranguejo, aratu, peixe. O Ibama proíbe coisas para nos que para o branco que paga uma gorjeta libera, libera pra eles destruir nossa mata, já denunciamos na procuradoria, já vieram tomaram a moto serra e eles sempre voltam com novas, se fosse um índio estava preso, ainda que o índio só faz as coisas pra sobreviver, ainda ele que faz tudo o que pode pra preservar. Cada planta que nasce, cada árvore, é nossos antepassados dando força pra que a terra não fique nua. Os brancos só querem deixar a terra nua. Cada vez que vejo as maquinas destruindo a mata, aquilo dói, eles tirando as vidas, e nos sabe quanto tempo demora uma mata para nascer. O cemitério indígena, na praia dos coqueiros, já esta fechada de muro, essa terra sagrada foi comprada. A cada dia que passa os brancos vão tomando e nos sem direito a nada, nem a respirar, eles estão tirando as matas, poluindo os rios e eles também vão sofrer com isso.

Eu não tenho terra, então luto por mim e por meus parentes, para agente ter o que é nosso. Os brancos chegaram com a ganância do dinheiro, enganando os índios para tirar suas terras.

Hoje entendo o medo que eles botaram nos índios, quando vejo que Marcelino não tinha o apoio do povo todo. Olivença era o centro da comunidade indígena e hoje quase não tem mais índios, aqui os brancos mandam em tudo!! Hotéis, pousadas, clubes, aqui tem casas de deputados, vereadores… aqui eles humilham, eles pisam, eles machucam, eles colocam a gente como figuras de revista, quando vem um grupo de estrangeiros eles querem agente para mostrar: Oh! os índios, Oh! os índios, fotos, fotos… e acabou.

Agora os brancos votaram uma lei que nos da direito a ter devolta nossas terras, foram os brancos também que nos deram direito na lei de ter uma educação diferenciada… mas não estão assumindo, e nos não vai ficar calado, vamos gritar, porque se alguém nos descrimina hoje e nos não fazemos nada ele vai nos descriminar a vida toda. Tem que denunciar… Tem que demostrar que nos não somos diferentes de ninguém, que só queremos viver nossa cultura. Antes diziam aqui não tem índios, só tem unas Caboclos dentro da Mata, nos começamos ir a Brasília com os parentes, o apoio dos Pataxo e de algumas Instituições, em 1999 nos nos estruturamos mais, eu foi eleita Cacique, e agora em 2002 o governo nos reconheceu oficialmente, já tem cadastros de 1999 2624 índios, mas somos muitos mais. Agora estamos no processo de limitar nosso território, vai ser com aquele historia velha que todos sabem, das 7 léguas em quadro (96.000 hectares). A gente não quer entrar em pé de guerra, então estamos conversando pensando que para algumas pessoas que queiram continuar vivendo dentro de nossa área terão que pagar um imposto. Nos não queremos que morra ninguém, porque cada vida vale muito, mais que qualquer casa o fazenda. Nos queremos juntar todos os índios em uma localidade só, reflorestar toda a área desmatada, e juntar os parentes para morar juntos onde possamos viver em união, partilhando de uma escola indígena, de um centro de saúde, um centro cultural, todos juntos, com uma roça coletiva e também cada um com sua rocinha.

Aqui somos todos os dias ameaçados, principalmente nos que falamos de nossos direitos eles querem nos varrer, e fundamentalmente somos muito descriminados, nos chamam de ladrões, de preguiçosos.

Nos não somos um povo ressurgido como dizem, nos sempre existiu, só que com muito medo, cheios de barreiras, mas nos vamos recuperar nossas terras e aqueles parentes que hoje estão em Ilhéus catando lixo pra sobreviver vão poder voltar e criar sua roça.

Muitos parentes que tem uma terrinha doa para outros parentes um pedacinho de terra para se acomodar, mas nos queremos o que é nosso.

Aqui estamos muito isolados, sem telefone, sem eletricidade, sem acesso de carros. Em quanto tiver vida vou lutar, por mim, por meus parentes, por nossos filhos e netos.

Jamopoty é o meu nome indígena, que significa Florescer. Eu quero recuperar nossas terras para a gente ver muitas flores.

Aqui tem muitas pessoas que não tem o que comer, mas aqui agente não pode receber comida, tem que receber nossa terra para depois colher nossa comida.

A necessidade de ter o mar é muito grande

Um comentário:

  1. Muitas coisas eu poderia dizer, muitas coisas precisam ser ditas.E este é um dos momentos que todos que somos comprometidos com um mundo melhor, e esse mundo melhor é o mundo onde todos tenham direito a ter direito.É um dever de todos nos lutarmos por nossos direitos e neste momento em que se inicia a campanha eleitoral devemos marcar nossas presenças exigindo deste candidatos que a lei venha acompanhada de justiça.
    Laura Lobato
    Fortaleza Ceará

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