Para nós indígenas a terra é mais que um pedaço de chão. A terra não é apenas forma de sustento, mas principalmente um lugar territorial onde estão enterrados nossos ancestrais, onde desenvolvemos nossa cultura, nossa identidade e nossa organização social.
É impossível um povo indígena viver sem terra. A terra é a base de tudo.
Ao longo dos séculos, nós povos indígenas perdemos quase a totalidade de nossas terras para fazendeiros e posseiros. Muitas terras tidas como devolutas (http://pt.wikipedia.org/wiki/Terras_devolutas) foram aos poucos sendo titularizadas em nome de terceiros, sem considerar a existência de nós indígenas nessas áreas. Isso aconteceu bastante com o povo tupinambá e com muitos povos indígenas pelo Brasil afora.
É bom que se diga que isto aconteceu e acontece com a conivência do órgão indigenista oficial, que tinha e tem o dever de proteger as terras indígenas e seus habitantes tradicionais.
Devido a falta de iniciativa das entidades governamentais em reconhecer as terras dos povos indígenas, somos obrigados a retomar por conta e riscos próprios nossos territórios. Os conflitos são constantes. São muitos os casos de violência e mortes que acontecem durante as retomadas, porém é o único meio que temos de pressionar e de sobrevivência visto não termos terra para viver nosso modo de vida e tirar nossa subsistência.
Nossa Constituição Federal de 1988 determina que cabe à União demarcar todas as terras indígenas do Brasil, sem especificar regiões prioritárias. Acontece que o Governo Brasileiro coloca acima da Constituição as exigências do grande capital. Infelizmente, o que percebemos na prática é que em se tratando de demarcações o governo vem priorizando os povos da Amazônia pois estão incluídos nos convênios multilaterais. Nós povos indígenas que não estamos localizados na Amazônia, por dependermos exclusivamente do orçamento da União, somos constantemente prejudicados pelos cortes orçamentários.
Tudo isso é muito injusto pois nós povos indígenas do Nordeste fomos os primeiros a serem invadidos e ter nossa terra usurpada.
O governo brasileiro tem uma dívida histórica para com os povos indígenas e precisa o mais urgente possível sanar esta dívida.
Potyra Tê Tupinambá.
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